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Publicou também romances, tragédias e comédias. Era, positivamente, grande médium inspirada. Personalidade muito conhecida no meio poético, frequentando os salões literários de Mme. Récamier, onde se reuniam as celebridades do momento, muito natural que ela tomasse contato com as mesas girantes.
Desde o primeiro contato com as mesas, ela se convenceu da veracidade das manifestações. Teve oportunidade de se encontrar, pessoalmente, com o professor Rivail, possivelmente, em alguma das reuniões que ele frequentava nas suas pesquisas em torno dos fenômenos que assombravam Paris.
Amiga pessoal de Victor Hugo, os acontecimentos políticos do ano de 1851 e o exílio de seus amigos a marcaram de forma cruel.
Fiel a amizade, ela decidiu levar conforto moral aos pobres proscritos. Lançou-se ao mar e, em 6 de setembro, no verão de 1855 (06 de dezembro), Madame Delphine de Girardin , desembarca na Ilha de Jersey para uma visita à família Hugo, então instalada numa vivenda conhecida como Marine Terrace. Ela trazia, além das novidades da vida política e social de Paris, notícias sobre a mania então em voga na capital francesa: o contato com os mortos através da mesa.
Ela, então, contou aos incrédulos membros da família Hugo que as mesas davam pancadas e se inclinavam misteriosamente, como podiam também ser levadas a bater palavras inteiras e sentenças em código. Dinâmica, contudo, ela não se deixava abater em demasia. Um pouco triste e melancólica, mas igualmente feliz por rever seus amigos, ela reencontrou Victor Hugo e a família.
Auguste Vacquerie (1819-1895), que também visitava a família Hugo, ele que fora cunhado da jovem Leopoldine, filha de Victor Hugo, morta tragicamente em um acidente no Rio Sena, registrou, com detalhe, a estada de Madame Girardin em Marine Terrace:
Era a intuição de sua morte (Mme. Girardin sabia-se muito enferma e viria a morrer um ano e pouco depois) que a fazia interessar-se pela vida extraterrena? (...)Estava muito preocupada com as mesas girantes e, creio, a primeira palavra que me dirigiu foi para perguntar se eu acreditava nelas. Ela acreditava, e passava a noite a evocar os mortos... Ela fazia questão absoluta que todos participassem de sua convicção e, no mesmo dia da sua chegada, tivemos trabalho para fazê-la esperar o fim do jantar. Levantou-se à sobremesa e arrastou um dos convivas para o parlour onde atormentaram uma mesa que, de resto, permaneceu muda. Ela pôs a culpa na mesa, cuja forma quadrada contrariava os fluidos. Na manhã do dia seguinte foi comprar, numa casa de brinquedos, uma mesinha redonda, de um pé só, terminando em dedo-de-galo.
A mesa adquirida por Mme. de Girardin servia exatamente a seus propósitos; entretanto, nada aconteceu. "Os Espíritos – esclareceu – não eram cavalos, que esperam pacientemente o burguês, mas seres livres e dotados de vontade; vêm quando querem.” As sessões foram longas e cansativas. Victor Hugo, cético, aderiu às reuniões somente para não desgostar a amiga.
Após várias e fracassadas tentativas, eis que se ouviu um ligeiro estalido na madeira. Finalmente, no domingo, 11 de setembro, a concentração e o silêncio foram recompensados. O estalido se repetiu. De repente um dos pés se ergueu. Mme. de Girardin disse: “Há alguém presente? Se houver e quiser falar-nos, dê uma batida. O pé caiu com um ruído seco – Há alguém, gritou Mme. de Girardin. Fazeis as perguntas”.
Uma comunicação aconteceu. Uma comunicação que mudaria os rumos da vida do grande poeta francês. Quem se comunicou, através da mesa foi nada mais, nada menos que sua filha Leopoldine. Sua amada filha, morta durante a lua-de-mel, afogada em um lago, num passeio de barco com o marido.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, o Espírito de Delphine de Girardin assina a mensagem A infelicidade real, no capítulo V, item 24, a seguir transcrita "Todo o mundo fala da infelicidade, todo mundo a experimentou e crê conhecer seu caráter múltiplo. Venho vos dizer que quase todos se enganam, e que a infelicidade real não é tudo aquilo que os homens, quer dizer os infelizes, a supõem. Eles a veem na miséria, no fogão sem lume, no credor ameaçador, no berço vazio do anjo que sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e de coração partido, na angústia da traição, na nudez do orgulhoso que gostaria de se cobrir de púrpura e que esconde com dificuldade sua nudez sob os farrapos da vaidade; a tudo isso, e a outras coisas ainda, se chama de infelicidade na linguagem humana. Sim, é a infelicidade para aqueles que não veem senão o presente; mas a verdadeira infelicidade está nas consequências de uma coisa, mais do que na própria coisa. Dizei-me se o acontecimento mais feliz para o momento, mas que tem consequências funestas, não é em realidade mais infeliz que aquele que causa primeiro uma viva contrariedade, e acaba por resultar no bem? Dizei-me se a tempestade que quebra vossas árvores, mas saneia o ar dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.
“Para julgar uma coisa é preciso, pois, ver-lhe as consequências; é assim que, para apreciar o que é realmente feliz ou infeliz para o homem, é preciso se transportar além desta vida, porque é lá que as consequências se fazem sentir; ora, tudo o que se chama infelicidade segundo sua curta visão, cessa com a vida e encontra sua compensação na vida futura.
“Vou vos revelar a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as forças das vossas almas equivocadas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é a fama, é a agitação vã, é a louca satisfação da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem sobre seu futuro; a infelicidade é o ópio do esquecimento que reclamais ardentemente.
“Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, porque vosso corpo está satisfeito! Não se engana a Deus; não se esquiva do destino; e as provas, credoras mais implacáveis que a matilha excitada pela miséria, espreitam vosso repouso ilusório para vos mergulhar de repente na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma enfraquecida pela indiferença e pelo egoísmo.
“Que o Espiritismo vos esclareça, pois, e recoloque em sua verdadeira luz a verdade e o erro, tão estranhamente desfigurados pela vossa cegueira! Então agireis como bravos soldados que, longe de fugirem do perigo, preferem as lutas dos combates temerários, à paz que não pode dar nem glória, nem progresso. Que importa ao soldado perder no tumulto suas armas, sua bagagem e seus uniformes, contanto que dele saia vencedor e com glória! Que importa àquele que tem fé no futuro deixar sobre o campo de batalha da vida sua fortuna e seu manto de carne, contanto que sua alma entre, radiosa, no reino celeste?” (Delphine de Girardin, Paris, 1861.)
Fonte:
O Consolador
Revista Semanal de Divulgação Espírita
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